segunda-feira, 14 de junho de 2010

O início das coisas e o término de outras

Minha mãe começou a apresentar alguns sinais de perda de memória por volta de 1998. Na época ela tinha 54 anos, havia deixado o emprego há algum tempo e estava cuidando do meu primeiro filho, o que, na minha opinião, fazia com que as coisas "tivesse mais sentido". Quando meu filho estava com cerca de oito meses ele foi para uma escolinha e aí parece que "as coisas começaram a perder um pouco do sentido". Além disso, ela já não estava mais ao lado do meu pai, eu já não morava mais com ela, e minhas irmãs estavam dando rumo as suas vidas, o que fez com que uma mãe como ela, para quem os filhos sempre foram todo o sentido da vida, ficasse um pouco "sem chão". Minha mãe sempre foi uma guerreira, como a maioria das mães, e as vezes tendemos a não perceber que estas pessoas também são falíveis e têm suas "fraquezas". Acho que tudo se somou neste momento e, além disso, ela estava entrando na fase da menopausa. Quando os primeiros sinais de confusão mental começaram a aparecer acho que eu e as minhas irmãs não percebemos, ou talvez, não quisemos ou soubemos perceber. Isso porque meu pai também teve Mal de Alzheimer, assim como minha avó por parte de mãe. É normal achar que esse tipo de coisa acontece com todo mundo, mas nunca vai acontecer com a gente. e minha mãe sempre foi muito ativa, forte e "inabalável". Minhas irmãs começaram então a procurar algum auxílio médico, inicialmente em uma endocrinologista. Além dos cuidados devido à menopausa foi diagnosticado um hipotireoidismo inicial. Tudo isso, mais o quadro "psicológico" da minha mãe poderia justificar o seu estado, na opinião deste profissional. No começo sempre é difícil saber a quem recorrer. Nessa situação devemos procurar um neurologista? A experiência mostrou que nas fases iniciais não há muito o que este profissional possa dizer ou fazer, pois não há nenhum diagnóstico definido, é o foco deles parece ser sobre alterações estruturais no sistema nervoso, que inicialmente não são visíveis. E um psiquiatra? A tendência de alguns destes profissionais é uma abordagem farmacológica, o que ao nosso ver não era interessante naquele momento, já que associaram os sinais e sintomas a um quadro depressivo. Só quando procuramos um geriatra tivemos uma maior "atenção" e clareza do que estava ocorrendo: nossa mãe estava desenvolvendo uma série de sinais de Mal de Alzheimer.
Sabe de uma coisa? As vezes a vida nos prega uma peça. Digo isso porque tenho formação na área biológica, e desde de 1997 me envolvi no estudo de fisiologia humana, me apaixonei pela neurofisiologia e comecei a trabalhar com pesquisa em neurociências: meu "interesse" estava focado em Epilepsia e Mal de Alzheimer. Então, teoricamente, eu sempre soube o que tudo "isso" implicava. Mas por paradoxal que seja, nunca tive coragem de "realmente saber". Minhas irmãs cuidaram de tudo, pois perceberam a gravidade da doença. As vezes alguma dose de desconhecimento e "ignorância" sobre o assunto pode ser bom. Eu sempre evitei saber quais os remédios minha mãe estava tomando, e sempre tive dificuldades para me envolver 100% em todos os cuidados iniciais. Na verdade eu não queria acreditar no que estava vendo, e não queria que minha "mente consciente e racional" visse e compreendesse as implicações de cada sinal e sintoma. Confesso que tempos depois cheguei a sentir muita culpa, principalmente pela possibilidade de ter faltado no apoio às minhas irmãs, e à minha mãe, mas encaro que como ser humano, e tendo em vista o que eu conhecia a respeito, fiquei "paralisado", e acredito que muitos no meu lugar agiriam assim. Meu enolvimento com a espirutualidade fez então com que eu "buscasse uma explicação" na perspectiva da religiosidade, e da evolução espiritual. Não é fácil querer ser forte sempre ... tampouco necessário.
Hoje em dia, em homenagem a tudo o que minha mãe nos esninou, eu e minhas irmãs esperamos poder compartilhar algumas experiências que possam colaborar no alívio das dores daqueles que se vem numa situação semelhante. E para começar gostaria de dar uma opinião pessoal a respeito: provavelmente minha mãe tem uma bagagem genética, e consequentemente, uma disposição biológica para o desenvolvimento do Mal de Alzheimer, mas acredito que ela tenha, no mínimo, "desencadeado" o início da doença. Como pesquisador do assunto sei que não há cura para o Alzheimer, tampouco uma compreensão completa de suas causas e da sua fisiopatologia, mas acredito que a mente seja uma coisa poderosa, e que o corpo possa ser "submisso" a ela. Acredito que o corpo traz em sua constituição algumas "lições" a serem vividas nesta vida, e acho que finalmente compreendi uma frase atribuída à Jesus Cristo, que li por volta de 1990:
"Se o corpo foi feito em função do espírito isso é uma maravilha; mas se o esírito foi feito em função do corpo isso é a maravilha das maravilhas".
Em outros posts espero poder compartilhar informações de interesse, e que possam ser úteis.

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